sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O TEMPO


O TEMPO

Um eterno fluir,
Uma sucessão ininterrupta de fatos,
Um pulsar de acontecimentos...
Carpem Dien, aproveite o dia,
Acredito em Goethe:
Para quem “Cada momento,
Cada segundo
É de um valor infinito,
Pois ele é o representante
De uma eternidade inteira”.

Cuida, ó ser, da tua juventude,
Força e beleza,
Pois a vida é curta
E o tempo flui como o éter
Ou o álcool jogados ao vento.

Vinte anos se passaram,
(- E como voou!!!) e ainda me lembro
Quando, arrogantemente,
Eu pensava ser o dono do mundo!

Vida de ilusão!

Daqui a vinte anos, se isso me for permitido,
Terei sessenta e cinco, e com a idade,
A absoluta certeza de que eu não sou dono de nada!
Ou melhor, que eu não sou nada,
Corolário da constatação!

Eu sou filho do tempo,
Eu sou filho da vida,
Eu sou filho da morte!
Que eu viva, então,
Cada segundo
Como se fosse o último,
Para que todos os segundos
No tempo, na vida ou na morte,
Se tornem eternos primeiros!
Ilustração: Vincent Van Gogh

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

SÃO PAULO: CIDADE-SOLIDÃO


SÃO PAULO: CIDADE-SOLIDÃO


São Paulo – muitas definições poderiam ser dadas a essa linda e grandiosa cidade brasileira!Nascida de um povoamento forçado, ordenado pelo então Governador-Geral Mem de Sá, para que os habitantes da Vila de Santo André se transferissem para os arredores do Colégio Jesuíta (Pátio do Colégio – primeira construção), fundados pelos padres Manuel de Nóbrega e José de Anchieta para catequizar os índios à fé cristã. Era a Vila de São Paulo de Piratininga, fundada em 1554, entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí que aparecia na geografia brasileira. Pobre que era no início, possibilitou que seus bravos homens – os bandeirantes – saíssem de suas terras em busca de índios, ouros e diamantes. Com essa vocação para o progresso e acúmulo de riquezas foi elevada à categoria de cidade em 1711. Daí em diante foi uma avalanche. Foi cognominada até de cidade imperial por Dom Pedro I do Brasil. Não obstante os vários títulos que se apregoa a essa grande metrópole brasileira, a maior cidade do hemisfério sul, o que mais me agrada é chamá-la e concebê-la através de sua principal característica: A hospitalidade! E foi assim que, acolhedora por natureza, São Paulo acolheu em seu ninho pessoas oriundas do mundo inteiro, como italianos, portugueses, judeus, espanhóis, lituanos, armênios, árabes, libaneses e sírios, japoneses e chineses. Brasileiros de todos os rincões habitam essa terra de esperanças, especialmente para os nordestinos que a fugir das mazelas da seca repetem o texto de Graciliano Ramos, pois acreditam que “chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, sinhá Vitória e os dois meninos” (in: Vidas Secas, Rio de Janeiro: J. Olympio, 1938). Como bom nordestino não poderia deixar de prestar uma singela homenagem à maior cidade nordestina do Brasil nos seus 455 anos. Parabéns São Paulo!


METRÓPOLE DA SOLIDÃO


Caminhos de tuas artérias
Que bebe de todos os sangues
Convive com tuas misérias
Disputas no trânsito, gangues...

Fumaças do ser corroído
As chamas que vêm lá das fábricas
Respiro de um ar poluído
Teus olhos encharcam de lágrimas

Sussurros de vozes caladas
Vividas em vidas de cão
Mas ainda assim és amada

Metrópole da solidão
Milhões solitários da estrada
Repousam no teu coração

Ilustração: Fotografia retira do Google.com.br

domingo, 18 de janeiro de 2009

MEU QUARTO, MEU REFÚGIO!

Num mundo que clama pela permanente intercomunicação e interatividade, em que as pessoas têm que estar constantemente antenadas, plugadas, conectadas, ligadas...não há espaço para o silêncio e intimidade. O quarto, último refúgio para a auto contemplação e meditação já não passa de um mero depósito de um corpo abarrotado de dramas e estresses que calam o corpo num repouso forçado. Já não se lê mais; já não se ouve música; já não se curte mais a intimidade como antes - o quarto, esse recôndito da intimidade, já não serve mais pra nada além do obrigatório depósito de resíduo de um corpo cansado. Poderia, muito bem, cumprir outras tarefas além da de dormir. Vincent Van Gogh, o grande mestre da arte pontilhista, embora sendo holandês, não se esqueceu de postar para a posteridade um belíssimo quadro do seu quarto de quando vivia em Arles, na França. Não obstante o fim que teve esse grande pintor conseguiu mostrar que um quadro (leia-se também "quarto") vale muito mais do que mil palavras. Escrevi esse singelo poema para dialogar com o meu refúgio.



MEU QUARTO

Me quarto,
Meu refúgio!
Esconderijo de minhas mágoas
Leito sereno das águas
Que escorrem do meu rosto
Como aljôfares em folhas ressecadas

Meu quarto,
Meu ninho!
Repouso de um guerreiro
Que em disputas por outros peitos
Vísceras expostas de um defeito
Que a lâmina do ódio o íntimo feriu

Meu quarto,
Meu silêncio!
O conforto de um diálogo sem palavras
O aconchego de um sonho alienante
O sossego inalienável de direito
À solidão requerida por vontade

Meu quarto,
Meu “EU”!
Onde toda a identidade
Da nudez à intimidade
Revela a individualidade que acalma
Todo o corpo envolto de uma alma

CONSUMISMO



A nossa sociedade pode ser definida como a sociedade do consumo. Parece que a felicidade só existe onde existe a possibilidade de consumir. E não é ao consumo básico a que estou me referindo. É o consumo descontrolado, na sua vertende mais perigosa que é aquela em que o inívíduo age como um viviado não tendo nenhum controle sobre seus impulsos. É o consumo compulsivo - a doença da modernidade. Se alguém está fora da sociedade do consumo é um marginal - está à margem dela. Portanto é um ser "menor". Não é plenamente cidadão, posto não poder sequer olhar às vitrines. O homem nessa sociedade vale pelo que tem. E não só pelo que tem, mas pela qualidade do que tem. Ou seja, já não vale o "carro", por exemplo, pelo simples fato de transportar pessoas. Não! Ele vale pelo status que oferece ao seu possuidor. Quanto "maior" e/ou "melhor" (entenda-se isso relativamente), tanto "maior" e/ou "melhor" será seu dono. Essa variante serve para todos os bens mensuráveis monetariamente. É como se voltássemos ao tempo das cavernas: Tanto maior e melhor será o guerreiro aquele que voltar pra caverna com a maior e/ou melhor caça. Os "bens", necessários à sobrevivência são agora medidas de posicionamento no estrato social. O consumo compulsivo, na realidade, é uma loucura. O homem está louco e já não sabe definir qual a sua verdadeira identidade.





COMPRAS


Hoje eu saí
Fui comprar roupa
E guarda-roupa
E cueca
E sapato
E meia.
Não esqueci
Das camisas
De gola
E de malha,
Camiseta
E calção.
Comprei tudo
À prestação!
Foi de cheque.
Pra minha vó
Dei um leque
Que foi tão caro
Foi pros outros
Não foi pra mim.
Dei um cheque
Só pré-datado
Pouco fundo
Já esgotado
O meu limite
Pelo banco
Que vive olhando
A minha conta
E o meu saldo
Já no vermelho
Não têm espelho
Pra olhar pra si
Que a surrupiar
Do meu extrato
Pelo contrato
Sua tarifa
Como uma rifa
E cobra muito
Pelo talão.
Das minhas compras
Eu me lembrei
Vão me atolar
Precipitei
Sou brasileiro
Que ganha pouco
E como louco
Gasta o que não tem

Num cinturão
Também comprado
Com meu trocado
E sem pagar
Vou me enforcar.

Melhor seria
Se bem pensado
Lá num cofrinho
Daqueles de porquinho
O meu trocado
Tivesse guardado
E um futuro
Tão bem distante
Viver folgado
Com os rendimentos
De juros às pampas
E ficar rico
E nem olhar
Pros preços das coisas
Que coisa de pobre
Olhar o preço das coisas!
E conferir
E comparar
Depois sacar
Da minha poupança
Meus dividendos
Do capital
Encher a pança
Gastar de novo
Com Sonrisal

E o que sobrar
No banco guardar
Pra render juros
E ficar rico
E endoidecer
Com meio por cento
De todo mês
Que os meus trocados
Se vão render
Pra quê comprar?
A tal da roupa
E o guarda-roupa
Pra quê guardar
Minha cueca
Sapato e tênis
Meia e camisa
Pois é melhor
Guardar dinheiro
E ficar louco
Rasgar dinheiro
Pra quê guardar?
Vá que eu não pague
Cheque sem fundo
Então meu mundo
Vai desabar
E vou morrer
Tão triste e pobre
Eu que era nobre
Hoje estou de porre
Pois consegui
Comprar
Coisas que vão
Como o cinturão
Me enforcar
De dívidas!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

CAMPOS DO JORDÃO - SP


Que imenso prazer em visitar essa linda cidade do interior paulista! Já é a quinta vez que vou e cada vez descubro algo novo. Quando estive nas férias de julho/2007 tive o prazer da sensação de 2 graus negativos. Muito bom e diferente pra quem é do nordeste com eu. Em Brasília, onde vivo hoje, já tenho passado por algum frio, mas nenhum que se iguale. De qualquer forma, visitar Campos do Jordão representa angariar adornos de civilização e beleza. A beleza da arquitetura e o aconchego da população é por demais contagiante. Não tem como não se deliciar desse prazer. O chocolate quente, o fundue ou um passeio no teleférico até o morro do elefante são coisas que não se pode perder. Inspirei-me no local e resolvi compor este rondel que compartilho no meu blog.



PASSEIO EM CAMPOS DO JORDÃO

Passeio de quem não erra
E sucumbe à paisagem e ao tempo
De um frio reinante na serra
Que esquenta meu pensamento

Beleza que não se aberra
Cultura e contentamento
Passeio de quem não erra
E sucumbe à paisagem e ao tempo

E quanto prazer se encerra
Com a brisa, a montanha e o vento
Eu volto a essa linda terra
Em busca do encantamento
Passeio de quem não erra

domingo, 4 de janeiro de 2009

PIRACICABA


Há coisas na vida que acontecem e a gente não entende o porquê. Não é preciso entender mesmo! Importante é não deixar passar como se fosse apenas obras do acaso. Há um mundo místico em cada coisa. Isso é verdade! Eu me recordo que, quando adolescente, ouvia a música que tocava "O Rio de Piracicaba, vai jorrar água pra fora...dos olhos da minha amada..." E ficava pensando quão bela deveria ser essa cidade. Nem imaginava que o meu destino um dia estaria ligado a ela. Pois é! Conheci a minha amada, uma piracicabana da gema. E sempre, às férias, apareço por aqui. Incrível, mas as lágrimas que jorram hoje são minhas, só de lembrar dessa incrível coincidência. Bacana a vida, não é mesmo? Fiz um pequeno acróstico pra homenagear essa linda cidade do interior paulista.


PIRACICABA


Ponte para um amor

Instiga-me a te querer

Rabiscos de uma história

Alcova para um descanso

Cuidados com a minha amada

Instintos de proteção

Carícias que a me envolver

Assim te visito e volto

Brasília que é o meu quarto

Aqui é que eu durmo e sonho

VIAGEM NO TEMPO



O tempo é algo que sempre me intrigou. O diálogo com o tempo e a coragem de defrontar-se com ele vive a me instigar quando me confronto com as etapas da vida, infância, juventude e velhice. Hoje visitei os tios de minha esposa. Revi seus netos que antes só existiam nos projetos. Comparei aqueles senhores de até 91 anos e crianças com 2. Enfim, essa é a vida que não se cansa de multiplicar e apresentar possibilidades. Que vivam os jovens e os velhos e todos possam trocar suas experiências. Quanto a mim, fica a recordação de uma vida que viaja no tempo admirando-o e repeitando-o na sua imensa majestade. (Créditos para Salvador Dali para essa magnífica pintura. Belíssima!)


VIAGEM NO TEMPO

Nessa estrada em que trago a vida
Eu me perco e nem sei quem sou
Sugo o tempo numa bebida
Venço o passo que me alcançou

Vidas muitas que me assolaram
Moças pardas, loiras e pretas.
Laços ternos que me assomaram
Tristes mares, coisas secretas.

Risos lânguidos, dissabores.
Festas pálidas, tempo largo
Flores, pétalas: tantas cores

Nos sorrisos que imprimem o cargo
Em licores toscos amores
Que viagem de um gosto amargo!